Dando um balé no preconceito

Quero te perguntar uma coisa: você acreditaria se, dez anos atrás, alguém dissesse que o maior evento de moda da América Latina teria modelos plus size?

Taí a SP Fashion Week, com as marcas abrindo cada vez mais espaço para a diversidade de corpos, gêneros e etnias.

O fato é: nossas queridas Plus Girls estão arrasando – em franca evidência não apenas nas passarelas ou no mercado da moda, mas em setores e atividades até então insuspeitos.

Vem comigo conhecer o caso 😉

Com vocês, Júlia del Bianco

Conhece a Júlia Del Bianco? Você pode saber mais da história dela nesta reportagem do Estadão aqui.

A Júlia tem 35 anos e é uma bailarina Plus Size. Atualmente, seu trabalho como influencer e professora de dança vem contribuindo para desconstruir estereótipos no universo do balé.

Pra entender melhor a dimensão dessa façanha, perceber um detalhe é crucial: ela se formou em dança pela Unicamp em 2011. Lembra como era o mundo pré-2011?

O tempora, O mores

Mesmo recente em termos históricos, aquela era uma época em que a ditadura da beleza padrão regia grande parte da mentalidade e das relações sociais vigentes. Bem mais do que hoje – podem acreditar, jovencitas.

Agora, imagine a pressão que a Júlia sofreu durante os anos de universidade. Pense no tanto que a autoestima dela teve que suportar. Na quantidade de bobagens que ela teve de ouvir. Coisas do tipo: “Você não tem o corpo adequado” ou “Para dançar, você precisa emagrecer”.

Só na sapatilha

Com o tempo, Júlia foi adquirindo cada vez mais compreensão sobre a gordofobia e os mecanismos de pressão estética que sempre sofreu – na formação, profissão ou até mesmo no vestuário.

Não era saudável o tanto de coisas que tinha que fazer para manter aquele corpo dentro daquele padrão que as pessoas queriam

A partir dos 30 anos, iniciou uma jornada de amor próprio e redescoberta. Pouco a pouco, Júlia ampliava a autoconsciência em busca de suas reais potencialidades: “Eu comecei a me questionar algumas coisas. Eu percebi que não era saudável o tanto de coisas que tinha que fazer para manter aquele corpo dentro daquele padrão que as pessoas queriam. Mesmo fazendo tudo, ainda não era suficiente”, declarou em entrevista.

De lá pra cá, pode-se dizer que Júlia vive um excelente momento profissional. Em meio à rotina de ensaios e apresentações, ela criou aulas de balé especialmente para pessoas Plus Size – o Dance for Plus – e mantém um perfil com mais de 100 mil seguidores no Instagram, inspirando as pessoas a acreditarem em si mesmas e a lutarem pelos seus sonhos.

Bottero e Degas num pas-de-deux

Dance Class at the Opera, rue le Peletier - 1872 - Edgard Degas. Fonte: Wikiart

Aqui, na Audaz, a gente acha a trajetória da Julia tudo a ver com o que acreditamos. Aliás, o alcance e a visibilidade que ela desfruta talvez fossem impensáveis há poucos anos.

Sua trajetória – oxalá um sinal dos novos tempos – mostra que dançar, como outras expressões artísticas ou profissões, não só podem como devem abraçar a riqueza que só a diversidade oferece.

Por falar em arte, não seria uma ótima ideia alguma artista das pintura que misturasse em uma mesma série de telas as fofurinhas de Botero com as bailarinas de Degas?

Bather on the Beach - 2001 - Fernando Botero. Fonte: Wikiart

fotos: divulgação

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